INTRODUÇÃO
Tem sido
comum em nossos dias, algumas igrejas evangélicas adotarem práticas descritas
no Antigo Testamento, comuns no judaísmo, mas não no cristianismo. É uma
espécie de judaização da igreja. Pessoas não judias estão vivendo como se as
fossem. Esta tendência iniciou-se no período da igreja primitiva quando alguns
judeus convertidos orientavam que todos os demais, inclusive os gentios
convertidos, observassem parte da legislação do judaísmo, a fim de se completar
neles a obra da salvação. Os judeus convertidos tinham muita dificuldade em
descansar na obra vicária de Jesus a sua salvação completa.
Em Atos 15 é citada
a dissensão na igreja por causa da forte pressão exercida pelo grande número de
convertidos judeus sobre os novos crentes, para que estes se circuncidassem a
fim de serem salvos (v. 1). Tal ensino não prosperou devido a oposição de
alguns apóstolos, especialmente de Tiago (v. 13). No seu julgamento os gentios
convertidos não deviam ser “perturbados” (v. 19).
Na sua Epístola aos Gálatas, Paulo
nos informa que até mesmo o Apóstolo Pedro se deixou dissimular temendo um
grupo de judeus convertidos quando este comia com os gentios, também
convertidos. Barnabé também foi influenciado quanto a observar princípios do
judaísmo. A reação de Paulo foi enérgica. O Apóstolo repreendeu a Pedro,
afirmando que o homem não é justificado por obra da lei, e, sim, mediante a fé
em Cristo Jesus (Gl 2:11-14).
Paulo volta a falar desta tentativa
de judaização da igreja em Colossenses. Parece que havia ali uma espécie de
“Heresia Colossense” que tentava anular a liberdade cristã, sujeitando-a a
rituais que envolviam comida, bebida, lua nova e guarda do sábado (Cl 2:16-17).
Nas cartas às igrejas, em
Apocalipse, o Senhor Jesus faz referência a uma “Sinagoga de Satanás”,
infiltrada na igreja de Filadélfia, cujos membros se declaravam judeus, mas não
o eram e mentiam aos demais (Ap3:9).
A igreja primitiva se viu livre da
persuasão dos judaizantes apenas a partir do ano 70, quando o general romano
Tito destruiu o templo e dispersou os judeus, inclusive os judeus cristãos. Os
pais da igreja deixam de pregar nas sinagogas e o judaísmo deixa de ter
influências na fé cristã. No Concílio de Nicéia, em 325 A. D, a igreja afirmou
que não queria nenhum relacionamento comum com os judeus.
Hoje, quase
20 séculos depois do Concílio de Jerusalém (At 15) parece que a igreja voltou a
sofrer da “Heresia dos Judaizantes”. A diferença é que a pressão não é de fora
para dentro, isto é, não vem dos judeus convertidos, mas é de dentro para fora.
São líderes de igrejas evangélicas que estão resgatando práticas judaicas e
implantando-as. Agora mesmo em São Paulo está sendo inaugurada uma réplica do
Templo de Salomão, sacerdotes estão sendo investidos como “levitas” e se vestindo
se vestiam como os sacerdotes da antiga aliança (com maior luxo, é claro). Há
inúmeros sinais de que há um movimento que visa tirar Cristo do centro de nossa
espiritualidade e colocar nele o que a Cruz do nosso Senhor já anulou. Talvez o
ensino daqueles que vêm Israel separado da igreja, com um futuro glorioso, em
detrimento desta, seja o berço para tanta atenção ao judaísmo e suas velhas
práticas. Os que erroneamente esperam a restauração de Israel como nação podem
estar preparando o terreno, mesmo sem o saber, para esta judaização da igreja
de Cristo.
Recentemente recebi comunicado
de uma entidade conhecida a oferta de um professor “rabino”, que poderia dar
algumas aulas especiais no Seminário que dirijo. O que um “rabino” tem a
ensinar a alunos de um seminário? Este homem não nasceu de novo, não
tem as marcas de Cristo, é herdeiro do inferno eterno. O que ele tem a nos
oferecer? Este é apenas um exemplo desta abertura e até preferência de alguns
líderes e igrejas em relação à adoção de práticas judaicas na igreja cristã. Vejamos
algumas outras provas de que há um crescente movimento de judaização da igreja:
1 - A GUARDA DO SÁBADO
Um dos líderes evangélicos,
bem conhecido declarou: “Meu contato com Israel me mostrou várias coisas, como
os dias proféticos, as alianças: seis dias trabalharás e ao sétimo descansarás.
Êxodo 31 declara que o sábado é o sinal de uma aliança perpétua e da volta de
Cristo.” (Revista Eclésia). Tal ensino contradiz o ensino neotestamentario
do fim da Lei mosaica em Cristo Jesus (Rm 14.5, Cl 2.16, Ef 2.15, Gl 3.23-25).
A circuncisão também foi declarada como uma aliança perpétua (Gn 17:10-14), nem
por isso a igreja precisa praticá-la. Se alguém guarda o sábado considerando
como uma aliança perpétua, também deve circuncidar os seus filhos pois nos
ensina o texto bíblico: será circuncidado o nascido em tua casa e o
comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança
perpétua (Gn 17.13).
No N.T., nem sequer uma só vez, nos é ordenado guardar qualquer tipo de dia. Toda a lei moral e os outros 9 mandamentos são repetidos e novamente ordenados muitas vezes, mas não a guarda do sábado. O assunto do sábado é mencionado muitas vezes por Cristo e pelos escritores do N. T., mas jamais nos é ordenado.
Na Nova Aliança, não existe mandamento para guardar o sábado embora encontremos todos os outros do decálogo, (Mt 19:18-22). No caso do jovem rico, Jesus enumerou a maioria dos mandamentos, mas deixou de fora o mandamento sobre o sábado.
O apóstolo Paulo era apóstolo dos gentios, mas nunca ensinou ninguém a ficar guardando dias. Muito pelo contrário, ele afirmou que se alguém ficar guardando “dias” o evangelho da graça seroa inútil para essa pessoa: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Temo a vosso respeito não haja eu trabalhado em vão entre vós” (Gl 4:10-11).
O “Concílio de Jerusalém” reconheceu e ensinou que os crentes não precisam guardar a lei cerimonial (At15: 28-29).
A Bíblia declara que o “Sabbath” é lei cerimonial, crentes em Cristo não devem guardá-lo religiosamente (Cl 2:16-17; Gl 4:9-11).
2 – OS SACERDOSTES
LETIVAS
Tem se observado em igrejas
evangélicas a denominação de “levita” aos que participam ativamente do louvor.
Em alguns casos a nomenclatura é apenas simbólica, como uma forma de reconhecer
um trabalho feito ao Senhor.
É bom frisar, no entanto, que na sua essência o uso de terminologia não é correto. O ministério sacerdotal, e aqui se inclui os levitas, se encerrou no Antigo Testamento.
É bom frisar, no entanto, que na sua essência o uso de terminologia não é correto. O ministério sacerdotal, e aqui se inclui os levitas, se encerrou no Antigo Testamento.
Todo ministério sacerdotal foi substituído integralmente
por Jesus. O escritor aos Hebreus afirma que Jesus é sacerdote para sempre (5:
6). Ele é o nosso grande sacerdote no céu (10:21). No Novo Testamento não
existe mais a figura do “sacerdote” se referindo a homens, a não ser em 04
ocasiões onde ela aparece no plural (1 Pe 2:9; Ap 1:6; 5:10; 20:6), nestes
casos se referindo à toda igreja, ao conjunto do povo de Deus, como sacerdotes
do Senhor. É o que Martinho Lutero chamou de o Sacerdócio Universal de Todos os
Crentes. Na relação dos dons citados nas escrituras (Ef 4:11; 1 Pe 4:9-10; 1 Co
12:8-10; 28; Rm 12:6-8) não aparece o dom de “levita” e nem faz qualquer menção
a ministérios sacerdotais.
3 – FESTA DO
TABERNÁCULO E PÁSCOA
Em Levítico 23: 34-37 há uma ordenança para os filhos de Israel,
a de celebrar a festa do Tabernáculo. Era uma festa para ser celebrada durante
07 dias onde seriam oferecidos ao Senhor, ofertas queimadas, holocausto, oferta
de manjares, sacrifícios e libações.
Como pode o cristianismo resgatar uma festa que era como sombra do que haveria de vir (Cl 2:17; Hb 8:5; 10:1)? Toda a lei e cerimonial do Antigo Testamento se cumpriram plenamente em Cristo. O fim da lei é Cristo (Rm 10:4). Os holocaustos e ofertas na Festa do Tabernáculo cessaram quando o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, morreu em nosso lugar (Jo 1:29). Não precisamos mais dos dias santos e cerimônias judaicas (Cl 2:16; Gl 2:9-11). Nem mesmo os judeus precisam mais destas celebrações, visto que elas simplesmente apontavam para o que viria, ou seja, o Senhor Jesus e o seu sacrifício vicário.
A Festa do Tabernáculo, não é mais uma celebração, nem um culto, não tem valor algum. Ela deve ser considerada como um “lixo litúrgico”, conforme nos ensina o apóstolo Paulo. Ele guardava a lei de maneira irrepreensível até que conheceu a sublimidade de Cristo, e passou a considerar todas as coisas como “refugo”, o que é lançado aos cães, lixo (Fl 3:8). Semelhantemente devemos repensar a chamada “Páscoa Cristã”.
A cerimônia da Páscoa, instituída em Êxodo
12, celebrada pelos judeus como uma lembrança da libertação do cativeiro
egípcio, tem seu fim em Cristo. Jesus é o nosso Cordeiro Pascal (1 Co 5:7).
Nele o pai nos tirou do império das trevas e nos transportou para o seu reino
(Cl 1:13). O próprio Senhor Jesus, após celebrar a Páscoa, a substituiu pela
Ceia e ordenou aos seus discípulos a segunda. Em Lucas 22:8 Ele ordena que os
discípulos preparem a páscoa; no verso primeiro Ele lhes diz: Tenho
desejado ansiosamente comer convosco esta páscoa, antes do meu sofrimento. No
verso 20 Ele continua: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue
derramado a favor, de vós. Em Mateus 26, a distinção entre a Páscoa e a
Nova Aliança, simbolizada na ceia, é mais explícita. Nos versos 17 a 26 Ele
celebra a páscoa com os seus, já no verso 23 se diz: a seguir tomou um
cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos dizendo: Bebei dele
todos. A partir de agora a igreja celebra a ceia do Senhor e não a Páscoa.
Quando Paulo se refere a este momento não há qualquer menção à Páscoa (1 Co
11:17-34). Em nenhum lugar em todo o Novo Testamento se faz qualquer menção a
que a igreja celebre a páscoa.
É compreensível que nos dias em que o nosso calendário chama de “Páscoa”, igrejas evangélicas aproveitem para evangelizar ou mesmo se lembrar da morte e ressurreição de Jesus, no entanto devemos ter claro em nossas mentes que a Páscoa terminou quando o nosso Cordeiro Pascal, Jesus, morreu por nós na cruz e nos libertou de nossos pecados e da maldição eterna (1Co 5:7; Cl 1:13; Gl 3:13).
É compreensível que nos dias em que o nosso calendário chama de “Páscoa”, igrejas evangélicas aproveitem para evangelizar ou mesmo se lembrar da morte e ressurreição de Jesus, no entanto devemos ter claro em nossas mentes que a Páscoa terminou quando o nosso Cordeiro Pascal, Jesus, morreu por nós na cruz e nos libertou de nossos pecados e da maldição eterna (1Co 5:7; Cl 1:13; Gl 3:13).
4 – ATOS PROFÉTICOS
De vez em quando aparecem nas igrejas propagandas fazendo
alusão a Atos Proféticos; Conferência Profética; Palavra Profética. Até mesmo
em denominações históricas como a que pertenço há os que se arvoram a coisas
assim. É a crença de que a partir de palavras, imposição das mãos,
imprecações, há um direcionamento do mundo espiritual. É como se o céu fosse
sujeito ao comando da terra. Pessoas com este erro teológico fazem uso de
textos do Antigo Testamento, onde, por exemplo, os profetas falavam e algo
acontecia: Moises orou e o mar se abril; Josué orou e o rio Jordão se abriu;
Elias orou e caiu fogo do céu; Eliseu orou e um animal matou os que o
ridicularizavam. Baseados em textos assim os “profetas” da atualidade ordenam
que cidades sejam salvas, que regiões sejam libertadas do império das trevas, e
que um domínio espiritual de Deus se estabeleça.
É bom ver que não só a lei, mas também os profetas, tiveram o seu cumprimento em Cristo. Deus falou pelos profetas, mas hoje nos fala por Jesus (Hb 1:1-2). No Antigo Testamento existia o ministério profético, hoje existe o dom da profecia, e que, segundo o Apóstolo Paulo, o que profetiza fala aos homens (não a anjos ou a Deus), edificando, exortando e consolando (1 Co 14-3). Jesus ensinou que uma cidade deve ser ganha não com “Palavras Proféticas” mas com evangelização (Mt 28:18-20; Mc 16:15). Ele enviou os seus discípulos para entrarem nas casas (Lc 10:1-11) e não para fazerem “Declarações Proféticas” em ginásios de esportes, praças ou mesmo em púlpitos de igrejas.
Não podemos manipular o mundo espiritual. O Céu governa a terra (Mt 6:10). Sem Jesus não podemos fazer nada (Jo 15:5), “Atos proféticos” se assemelham muito a espiritismo que através de símbolos e palavras tentam governar forças espirituais. É muito mais “humanismo”, que atribui ao homem valores especiais, do que “cristianismo”, que apresenta o homem, ainda que convertido, como um desventurado pecador (Rm 7:13-25).
5 – CERIMÔNIA DE BÊNÇÃOS AOS
FILHOS
Ainda poderíamos decorrer sobre outras formas de
judaização da igreja, como por exemplo, “A Cerimônia de Bênçãos”, onde o pai
distingue o filho mais velho e o abençoa, dando a ele uma espécie
“primogenitura espiritual”. Nada mais judaico e menos cristão poderia ser
feito. Se no Antigo Testamento era comum os filhos mais velhos herdarem as
benções espirituais e materiais do pai (Cerimônia do Baracha), na igreja
neotestamentaria isto não se vê. Em Cristo todos são iguais. Há para o povo de
Deus um só corpo, um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um
só batismo, um só Deus e pai de todos, age por meio de todos e está em todos.
Os filhos de Deus não devem ser tratados diferentemente
(Ef 4.44-6). A bênção que um pai dá ao filho é muito além de uma imposição de
mãos, cerimônia ou simbolismo. A bênção pra os filhos depende do testemunho dos
pais, da sua dedicação ao Senhor, do seu zelo pela Bíblia e pela igreja. Os
filhos são muito mais impactados pelo ensino e admoestação cristã do que por
cerimônias destituídas de sentido espiritual (Ef 6:4). Com certeza a Bíblia
fala de palavras abençoadoras por parte de seus servos (Rm 12:14), mas elas só
tem sentido se forem em um contexto de submissão à Palavra do próprio Deus.
6 - OBJETOS SAGRADOS
A adoração em espírito e em verdade, ensinada por
Jesus a uma Samaritana que dava valor espiritual ao que acontecia nos montes ()
está sendo substituída por um apego a objetos. Não é incomum ver em igrejas
evangélicas a Estrela de Davi (que nem mesmo é uma figura bíblica), a presença
de Candelabros, o toque de chifres de animais (shofar), unção de objetos
(bancos, púlpitos, carros, chaves de carros e coisas assim).
No
Tabernáculo levantado por Moisés e nos templos que o sucederam era legítimo o
uso de objetos, que não tinham valor em si mesmos, mas apontavam para algo
superior.
Quase tudo apontava para Cristo. Agora meus irmãos Cristo
já veio, tudo se cumpriu, o véu já se rasgou e nada resta do cerimonialismo da
velha aliança para a igreja cumprir. ão existe qualquer menção no Novo
Testamento ao uso destas coisas.
Até mesmo o uso do
óleo para ungir enfermos, descrito em Tiago 5 tem uma aplicação totalmente
diferente da que tinha no tempo da antiga aliança. Mesmo assim, conforme o
mesmo livro, a oração da fé é que tem eficácia quando há enfermidade e não o
uso do óleo (Tg 5.15). Penso que os líderes cristãos que conduzirem seus
rebanhos a uma espiritualidade onde consta o uso de objetos, símbolos vétero-testamentários, e
não somente através de Cristo, responderão no juízo final como feiticeiros e
idólatras.
CONCLUSÃO
Todo o Antigo Testamento aponta para Jesus e tem Nele o
seu cumprimento. Ele cumpriu toda a lei (Mt 5:17). Ele é maior do que todo o
cerimonial e o templo (Mt 12:6); maior que os anjos (Hb 1:4-7); maior que Moisés
(Hb. 3:2-5); maior que os sacerdotes (Hb 10:21); maior que a páscoa (1 Co 5:7).
Ele é um com o Pai (Jo 10:30). Ele nos oferece uma nova aliança, que é
infinitamente superior à firmada com Israel (Hb 8:8-13).
O altar do qual participamos não têm direito de comer os
que ministravam no tabernáculo (Hb 13:10). Quem tem uma experiência com Jesus
experimenta o novo (2 Co 5:17); não precisa mais sujeitar-se a ordenanças e
costumes que eram apenas como sombra do que haveria de vir (Cl 2:17; Hb 8:5).
Jesus já veio e Nele tudo subsiste; Ele é antes de todas coisas e em tudo tem a
primazia (Cl 1:15-18).
Voltar às práticas
judaicas antigas é anular o sacrifício de Cristo; é rejeitar a sua graça sem
fim (Gl 2:21), é se submeter à escravidão, da qual Jesus já nos libertou (Gl
2:4).
O Apóstolo Paulo
pergunta: Aquele, pois, que vos concede a Espírito e que opera milagres
entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? (Gl
3:5). Ele mesmo responde: Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se Ele próprio maldição em nosso lugar (Gl 3:13a). A nossa glória
está na cruz de Cristo e não nas cerimônias judaicas (Gl 6:14). Que Deus nos
abençoe e nos livre desta prática.
Pr. Luiz César Nunes de Araújo