“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt. 5:4).
Que
tipo de choro pode levar-nos à felicidade?
Possivelmente não é o choro provocado pela perca e um bem
material, pelo término de um namoro, pelo fracasso de nosso time no campeonato,
ou coisas assim, que fazem parte de nosso cotidiano e são comuns a todos os
homens.
O choro que
Deus promete consolar parece ser mais sentido, mais cheio de dor, com um preço
mais alto a pagar. Parece que este choro está relacionado ao lamento e tristeza
de quem, diante de circunstâncias ruins, não tem outro recurso, nem outra
motivação, senão chorar aos pés do Senhor.
Deus
ouve. Ele ouviu o choro do menino Ismael quando este fora despedido por seu pai
Abraão e se encontrava desolado no deserto (Gn. 21:16-17); Deus ouviu o choro
de Ana que se sentia humilhada por não poder gerar filhos (1 Sm. 1:10); Deus
ouviu o choro de Davi quando este, muitas vezes, era perseguido por seus inimigos
(Sl. 69:10). O próprio Davi entendeu que Deus recolhe em um odre, um recipiente
todo especial, as lágrimas dos seus filhos (Sl. 56:8).
O
Senhor Jesus sempre se sensibilizou diante do choro de quem nada podia fazer
para alterar sua condição. Ele ouviu o choro da viúva que perdera o seu único
filho.
“Não chores”, foi a sua palavra àquela mulher aflita. Logo após,
Ele lhe restitui o filho vivo.
Ele
não deixou passar despercebido o choro de uma mulher que regava-lhe os pés com
suas lágrimas e os enxugava com seus cabelos (Lc. 7:38). Como me emociono com
esta mulher que se dispõe a enxugar os pés de Jesus com o que é tão precioso
para uma mulher, os seus cabelos. Jesus a exalta por este gesto e por choro
sincero, de arrependimento lhe perdoa os pecados (v. 48).
Jesus,
em outra ocasião, diante da morte de seu amigo Lázaro e do choro inconsolável
de Maria, sua preciosa ouvinte, se comove, e chora também (João 11:33-35).
Certas foram as observações dos Judeus, que disseram: vede quanto o
amava (v.36). De fato, amava a Lázaro e suas irmãs, e nos ama muito também,
e por certo ainda se comove diante de nossa fraqueza e fragilidade. Ele ainda
se compadece, mesmo estando assentado à destra do seu Pai:
Porque não temos
sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele
tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos,
portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. (Hb.4:15-16).
Mas nosso versículo fala também do consolo que interrompe o choro e restaura a
esperança. “Mulher, por que choras”? Disse Ele a Maria, que o
buscava no túmulo. O consolo foi vê-lo ali, ressuscitado, e que jamais poderia
ser detido(Jo.20:17).
É
interessante que na Bíblia as mulheres choravam mais. Naquele contexto onde
eram tão desprestigiadas, fragilizadas e hostilizadas, elas encontravam no
choro e na oração, o conforto. O importante é que Jesus as via e se preocupava.
Jesus se importou com todas as mulheres as quais viu chorando, e a todas
consolou.
Que bom que Ele não mudou e ainda continua consolando e cuidando das mulheres,
e também dos homens, pois os homens também choram.
Jacó chorou muito a perda de seu precioso filho José (Gn. 37:35). Abraão chorou
a morte da sua amada Sara (Gn. 23:2).
Jeremias, conhecido como o profeta chorão, é lembrado quando pensamos em uma
pessoa que chorava pelo pecado e pela dor do povo de Israel. Dizia ele: por
estas coisas choro eu (Lm.1:16).
Outro
homem que é surpreendido chorando é o querido Apóstolo Pedro, que após negar ao
seu Senhor, se arrepende e chora amargamente (Mt. 26:75). O consolo
veio poucos dias depois, quando na praia, à beira do Mar da Galiléia, o Senhor
Jesus o restaura e o comissiona de novo (Jo. 21:15-20).
Ele nos consola ainda hoje e nos restaura quando, após nos arrependermos de
nossos pecados, e experimentarmos uma tristeza “segundo Deus” (2 Co
7:10), somos perdoados.
No entanto, é possível, que muitos de nós choremos por muito tempo, como
Raquel, que inconsolável, chorava por seus filhos, que não mais
existiam (Mt 2:18).
Às vezes choraremos demasiadamente uma ausência, uma enfermidade, uma
separação, um erro. Para este choro, o consolo demorará mais. Pode ser que o
consolo se cumpra tão somente naquele dia, no novo céu e na nova terra, onde
Deus enxugará de nossos olhos toda lágrima (Ap. 21:4). Se não experimentarmos
aqui o que Davi descreveu no salmo 30:5, como a alegria vem pela manhã para nos
consolar do choro da noite; o experimentaremos quando chegar o novo mundo. Por
isso são felizes os que choram aos pés do Senhor e recebem dEle o consolo.
Penso ainda que a nossa oração neste momento não deve ser apenas para que Deus
nos console diante das lutas que enfrentamos, mas que Ele nos faça chorar mais
diante da dor dos outros, e nos comovermos diante do sofrimento de tantos.
John Wesley disse certa vez que deveríamos chorar com os que choram, mas
chorar também com os que não choram. De fato, os que não choram não lamentam
seus pecados e talvez sua perdição. Será que os que não choram perderam a
capacidade de se sensibilizar, a ternura, a afeição, o amor? Quem sabe.
Pense na possibilidade então de chorar mais também e de se identificar com
Jesus, que permitiu que seus discípulos o vissem chorando e registrassem a sua
sensibilidade diante do sofrimento humano. Não esquecendo, no entanto, que em
Cristo sempre encontraremos consolo, mesmo que a nossa dor seja grande.
Pr. Luiz César Nunes de Araújo