(Hb. 13:18-25)
INTRODUÇÃO
Há uma prática cristã que nos desafia muito nos temos modernos, a
“inquirição espiritual”, o vasculhamento de nossa alma, a autoanálise. Os dias
são corridos demais, as tarefas são grandes demais, o som do mundo é alto
demais, para pararmos e fazermos uma análise de nós mesmos. Às vezes somos a
extensão das máquinas e equipamentos que usamos.
E Qual o objetivo desta auto avaliação: Buscarmos a boa consciência,
descrita aqui no verso 18.
Todos nós temos um atributo chamado consciência – essa função da alma, da
psique, que determina o que é certo ou errado, que exerce juízo. A
psicologia chama esta função de superego. A bíblia nos ensina que esta
consciência é que nos dá condição de uma inquirição espiritual. É a
inteligência espiritual e moral que proporciona algumas transformações.
João o evangelista tinha noção desta consciência ao escrever sobre a
autoanálise:
1 Jo 3.20,21: Pois, se o nosso coração nos acusar, certamente,
Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas. Amados, se o
coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus.
João fala da graça de Deus em fazer aliança com a nossa consciência para
que ela nos acuse quando houver algo errado. Daí a necessidade de termos
uma boa consciência e uma introspecção espiritual de nós mesmos.
A Inquirição Espiritual é colocar a nossa inteligência a serviço de Deus.
É deixar Deus e sua palavra nos vasculharem.
O que não se analisam e não se julgam e não buscam uma boa consciência
estão sujeitos ao julgamento dos outros:
(1 Co 11.31): Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados.
Alguns, nos informa Paulo, naufragam na fé por não manterem, juntamente
com a fé cristã, uma boa consciência:
1 Tm 1.19: Mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo
rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.
O autor aos Hebreus aponta que esta introspeção espiritual, esta revisão
da alma, tem algumas lições:
- A
INSTROSPECÇÃO E A BOA CONSCIÊNCIA TEM ALVO.
Como dizia Calvino, nem uma vírgula na Bíblia é em vão. Este texto nos
mostra que esta boa consciência tem um alvo, uma razão de estar aqui.
- O
Primeiro alvo aqui é ter uma vida digna (V. 18 e 19).
No original temos a palavra “Kelos”: Digna, Vida bonita.
É este instrumento chamado boa consciência que nos dá condição de uma
autoanálise para vermos se estamos vivendo dignamente. O autor está dizendo
que, analisando sua consciência a encontrou a sua vida digna.
É a capacidade mental de fazer uma busca da dignidade espiritual. Este é
o princípio de Efésios 4.1, que nos manda viver de modo digno de nossa vocação.
A vocação cristã exige dignidade (Ef. 4:1).
Sem a inquirição espiritual nos tornaremos cauterizados, como as pessoas
descritas em.
1Tm. 4.2: Pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm
cauterizada a própria consciência.
Pessoas com a consciência cauterizada não ouvirão mais a Deus, ainda que
sejam salvas.
Paulo se apresenta como uma pessoa que anda diante de Deus com boa
consciência:
Atos 23. 1: Varões irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa
consciência até o dia de hoje.
Este Paulo foi acusado tantas vezes, o que o tranquilizava era esta
consciência tranquila diante de Deus.
Davi ora pedindo que Deus vasculhe a sua mente é porque quer ser dirigido
por um caminho eterno. O caminho eterno, o caminho do eterno, o caminho da
eternidade exige esta sondagem espiritual.
Sl 139.23 e 24: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração,
prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e
guia-me pelo caminho eterno.
2- O segundo alvo aqui é o aperfeiçoamento
para o bem
O aperfeiçoamento para o bem (v.
20, 21 a).
Nós nos analisamos a luz da perfeição de Cristo (v.21). Se nos
analisarmos à luz dos homens, talvez nos encontremos em uma boa posição. Foi
assim com o fariseu que orava na praça e se comparava com o publicano. Diante
do publicado ele era grande. No entanto diante de Cristo ele não passava de um
hipócrita.
Essa semelhança com Jesus não vem automaticamente, mas através da oração
e inquirição espiritual. Somos aperfeiçoados por Deus quer nos modelar à imagem
de seu filho.
Vamos olhando sempre, o tempo todo, até sermos transformados em sua
imagem (2Co. 3:18).
Isto se dá em oração, mas também através da observância do modelo
de Jesus deixado nos evangelhos, pois os seus exemplos nos foram deixados para
que sigamos os seus passos (1Pe. 2:21).
James Houston nos ensina o seguinte:
Voltamo-nos para Jesus como a verdade da oração. Quando pensamos sobre
nós mesmos à parte de Deus podemos ver quão naturalmente tentamos ocultar de
nós as trevas que há dentro de nos. Contra nossa auto ilusão e nossa cegueira
foi que Jesus declarou: eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas
trevas, pelo contrário terá a luz da vida (João 8.12).
Jesus faz brilhar um poderoso farol em nossas trevas interiores, semeando
vida em nossa morte. Entretanto, isso não significa que doravante viveremos sem
problemas e incerteza, por causa de nossa avançada vida de oração, mas a luz
que Jesus enfoca ajuda-nos a ver a nós mesmos com maior clareza, não sendo
enganados por aquilo que está escondido em nosso interior.
E continua:
Orar no nome de Jesus significa estarmos livres de nós mesmos.
Tornamo-nos assim uma pessoa em Cristo, não mais com a nossa própria
personalidade, mas libertos para pertencermos a Jesus, e a Jesus tão somente.
Vejamos como Deus nos aperfeiçoa: Como o mesmo poder que ressuscitou a
Jesus dentro os mortos. É um comando soberano, único e sem limitação alguma
(v.20).
3- O terceiro alvo é agradar a Deus ainda mais
(V.21)
A Bíblia está cheia de revelações do que desagrada a Deus.
Aqui se diz também o que o agrada: a boa consciência.
Agradar a Deus não é só deixar de fazer algo, mas uma atividade
renovadora em nossa mente: “operando em vós o que é agradável”. À medida em que
conhecemos mais a Deus na pessoa de seu filho e em sua Palavra; à medida que
oramos; à medida que praticamos os exercícios espirituais, tanto mais vamos
conhecendo o que é agradável a Deus. Deus opera para que façamos o que é
agradável diante dele (v.21).
O resultado desta intervenção de Deus e a nossa resposta em fazer o
que é agradável a Deus é que gera este lindo final: por Jesus Cristo a quem
seja a glória para todo o sempre. Amém!
É como se a cada instante dedicássemos ao Senhor o “santo dos santos” de
nossa vida: a nossa mente.
- A
INSTROSPECÇÃO E A BOA CONSCIÊNCIA TÊM UM MODELO
Jesus é o nosso modelo e fomentador para a boa consciência. No verso 21
se diz que Deus está operando nos salvos por meio de Jesus. Ele é que nos
aperfeiçoa e nos torna agradáveis diante de Deus. Gente pecadora demais se
apresenta diante de um Deus santo demais por causa de Jesus. Deus está operando
em nós pelo seu Espírito.
Ele é o modelo para nossa boa consciência. O autor aos Hebreus nos
informa que Ele jamais pecou:
Hb 4.15: Porque não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em toadas as coisas,
à nossa semelhança, mas sem pecados.
Ele mesmo em um de seus últimos dias, falando sobre a vinda de Satanás,
disse que ele não tinha nada nele:
João 14.30: Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe
do mundo, e ele nada tem em mim.
Ele é o referencial para a nossa perfeição. Olhamos para Jesus com força,
como um cão olha para o seu dono enquanto espera de suas mãos um pouco de
comida. O autor aos Hebreus diz que temos uma grande nuvem de testemunha que
nos rodeia, mas não nos manda olhar para nenhuma delas, mas tão somente para
Jesus (Hb. 12:1-2).
Um puritano disse certa vez: Marquei um encontro com o diabo,
atrás da cruz de Cristo.
Escondidos em Cristo estamos mais do que protegidos. Que nunca deixemos
de mirar o seu rosto.
Jamais seremos, do lado de cá da eternidade, tão límpidos quanto o Senhor
Jesus, mas este é o alvo. Um dos nossos hinos nos convoca a abraçarmos a beleza
de Cristo:
Que a beleza de Cristo se veja em mim.
Toda sua admirável pureza e amor.
Oh tu chama divina, todo meu ser refina,
Té que a beleza de Cristo se veja em mim.
Por nossa própria força não conseguimos imitar o Salvador, mas pela sua
graça e favor, esta citada no verso 25 (a graça seja convosco). Somente a
intervenção sobrenatural de Deus por sua graça, nos dá condição de uma boa
consciência.
A esposa de Hudson Taylor, Mary, é digna de imitação. Ao morrer,
aos 43 anos de idade, depois de ter perdido dois filhos na China:
Todos estes anos servindo ao Senhor, e entre Ele e eu não existe uma
única nuvem.
Quem de nós pode dizer isso?
Que graça maravilhosa nos alcança e nos abençoa, dando-nos condições de
servir ao Senhor sem impedimento algum.
- A
INSTROPECÇÃO E A BOA CONSCIÊNCIA TÊM INSTRUMENTOS
O autor aos Hebreus apresenta aqui dois instrumentos que muito auxiliam
os crentes em sua higiene da alma, em sua introspeção e em sua boa consciência.
O primeiro instrumento pode ser chamado de “exercícios espirituais”.
Ele fala no verso 18 das orações dos irmãos a seu favor. Ele pedia que
oreassem por ele com muito empenho, tanto para ter boa consciência como para
ser restituído aos irmãos (v.19).
Observem irmãos que aqui ele cita a oração, mas em Hebreus 4.12 ele
aponta outro instrumento usado por Deus, a Palavra inspirada;
Hb. 4.12: Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração.
A leitura dedicada da palavra, a meditação sincera, é de muita
importância para que a nossa alma seja límpida.
A palavra purifica:
João15. 3: Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho
falado.
Que significativo este versículo. A palavra purifica. Igrejas onde a
Palavra é pregada em sua profundidade, tendem a serem igrejas limpas, lavadas,
purificadas.
Também neste texto o autor aos Hebreus cita a oração como um instrumento
para a obtenção da boa consciência. Ele pede oração para que alcance uma vida
digna (v.18 e 19).
O segundo instrumento é a exortação dos crentes maduros:
O autor sagrado aponta este exercício ao finalizar a sua epístola
aconselhando que os crentes “suportem a presente palavra de exortação” (v.22).
Ele mesmo já havia se colocado à disposição para ser exortado e também exortar.
O autor aos Hebreus aqui não é um solitário em sua caminhada cristã. Ele
cita um experiente obreiro, Timóteo como seu conhecido. Obreiros maduros têm os
seus Timóteos: os novos e os velhos.
Ele também orienta que os crentes se lembrem de seus guias. Aqui temos um
homem com a consciência cristã límpida e para isso, além dos exercícios
espirituais, interage com gente de Deus. Ermitões não se aperfeiçoam. Quem não
tem Timóteo e os “guias”, não tem a oportunidade de serem examinados.
Hb 3.13: Pelo contrário, exorta-vos mutuamente cada dia, durante o
tempo que se chama hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo
engando do pecado.
Vejamos como a exortação é um instrumento valioso para a conservação de
nossas almas e para a perseverança dos santos.
Em um tempo em que os crentes buscam palavras de alento e consolo, ele
incentiva a suportarem as exortações da Palavra. Uma mente sadia diante de Deus
não se deixará adoecer diante de exortações. Ainda mais quando estas também são
instrumentos de Deus para o nosso bem.
Suportar as exortações é estar submisso a todo o Conselho de Deus e não
apenas às partes agradáveis. Vejam que o texto fala de suportar (anexeste, que
vem de anexomai), aceitar, prestar muita atenção, mesmo que com sofrimento.
É através da inquirição espiritual que nos propomos a ser exortados pelo
Senhor e na maioria das vezes através de seus servos, pois Deus usa os homens
para nos advertir e exortar (Rm. 12:8; 2 Co. 5:20; Tt. 2:6).
As práticas devocionais como a oração, a leitura da Bíblia, a comunhão
com os irmãos, ajudam a nossa consciência a detectar se estamos vivendo ou não
uma vida digna de Deus.
CONCLUSÃO/ APLICAÇÕES
- W. Tozer falando da
relevância do crente se autoanalisar, indica um caminho que muito nos
ajuda. Podemos ser conhecidos pelo seguinte:
- 1. O que mais
desejamos? Basta ficarmos quietos, aguardando que a excitação dentro em
nós se acalme, e a seguir prestar cuidadosa atenção ao tímido clamor do
desejo. Pergunte ao seu coração: o que você mais desejaria ter no mundo?
Rejeite a resposta convencional. Insista em obter a verdadeira, e quando a
tiver ouvido saberá o tipo de pessoa que é.
- O que mais pensamos?
As necessidades da vida nos induzem a pensar em muitas coisas, mas o teste
real é descobrir sobre o que pensamos voluntariamente. Nossos pensamentos
irão com toda probabilidade agrupar-se ao redor do tesouro secreto do
coração, e qual for ele revelará o que somos. "Onde estiver o teu
tesouro, aí estará também o teu coração."
- Como usamos nosso
dinheiro? Devemos ignorar de novo aqueles assuntos sobre os quais não
exercemos pleno controle. Devemos pagar impostos e prover as necessidades
da vida para nós e nossa família, quando a temos. Isso não passa de rotina
e diz pouco a nosso respeito. Mas o dinheiro que sobrar para ser usado no
que nos agrada irá contar-nos sem dúvida muita coisa sobre nós.
- O que fazemos com as
nossas horas de lazer? Grande parte de nosso tempo é usado pelas exigências
da vida civilizada, mas sempre temos algum tempo livre. O que fazemos com
ele é vital. A maioria das pessoas gasta esse tempo vendo televisão,
ouvindo o rádio, lendo os produtos baratos da imprensa ou envolvendo-se em
conversas frívolas. O que eu faço com o meu tempo revela a espécie de
homem que sou.
- Qual companhia nós
gostamos? Existe uma lei de atração moral que chama o homem para
participar da sociedade que mais se assemelha a ele. O lugar para onde
vamos quando temos liberdade para ir aonde quisermos é um índice quase
infalível de nosso caráter.
- Quem e o que admiramos? Suspeito desde há muito tempo que a grande maioria dos cristãos evangélicos, embora mantidos mais ou menos em linha pela pressão da opinião do grupo, sentem de todo modo uma admiração ilimitada, embora secreta, pelo mundo. Podemos conhecer o verdadeiro estado de nossas mentes, examinando nossas admirações não expressas. Israel admirou e até invejou com frequência as nações pagãs ao seu redor, esquecendo-se assim da adoção e da glória, das leis, das alianças e das promessas e dos pais. Em vez de culpar Israel, façamos uma autoanalise.
- Sobre o que rimos?
Pessoa alguma que tenha qualquer consideração pela sabedoria de Deus iria
argumentar que exista algo errado com o riso, desde que o humor é um
componente legítimo de nossa natureza complexa. Quando nos falta o senso
de humor, falhamos também nessa mesma proporção em equiparar-nos à
humanidade sadia.
Mas o teste que fazemos aqui não é sobre o fato de rirmos ou não, mas do
que rimos. Algumas coisas ficam fora do campo do simples humor. Nenhum cristão
reverente, por exemplo, acha a morte engraçada, nem o nascimento, nem o amor.
Nenhum indivíduo cheio do Espírito pode rir das Escrituras, da igreja comprada
por Cristo com o seu próprio sangue, da oração, da retidão, do sofrimento ou
dor da humanidade. E certamente ninguém que já esteve na presença de Deus
jamais poderia rir de uma história que envolvesse a divindade.
Faça perguntas à luz da Palavra de Deus:
- O que Deus está me dizendo?
- Que atitudes e comportamentos preciso abandonar?
- Como Jesus agiria em meu lugar?
- Como eu posso ser mais semelhante a Jesus?
- O que tem impedido a minha boa consciência?
- Que exortações eu tenho resistido?
Não nos esqueçamos de que somos indesculpáveis pois Deus nos dotou de uma
consciência e esta precisa ser colaboradora do Espírito Santo para que tenhamos
uma vida linda na sua presença.
Oremos juntos o Salmo 139. 23,24.
Sonda-me ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus
pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.
Pr. Luiz César